quarta-feira, 15 de junho de 2016

Ainda vinhas a tempo...

Hoje ainda vinhas a tempo...
Estaria aqui de braços abertos como sempre estive à tua espera...
Iria perguntar-te por onde andaste, em que sarilhos te metes-te e porque demoraste tanto a voltar...
Iria apaixonar-me outra vez por esse sorriso, por esse olhar e por essa tua parvoíce genuína que me fazia tanto rir. 
Passaram alguns anos e parece que nada mudou...
Cada vez que fecho a porta desta casa para ir trabalhar, parece que te vejo em cada recanto. Ainda te vejo a ler o livro naquela poltrona que eu detestava, mas que decidiste trazer da casa dos teus pais...Não combinava com nada, mas para variar fiz-te a vontade e deixei-a ficar.
Ainda vinhas a tempo de me fazer festas no cabelo até adormecer, de me enroscar em ti e pensar que o mundo lá fora continuava numa correria, mas contigo...contigo congelava todos os relógios perdidos pela nossa casa...pelo nosso lar...
Vinhas a tempo de saborear o teu café da manhã que fazia todos os santos dias, embora, muitas das vezes deixasse queimar as torradas e irritada começava a reclamar com tudo e ainda assim conseguias comê-las só para me reconfortares "não estão assim tão más, vá senta-te".
Vinhas a tempo de contar as estrelas no tecto do nosso quarto, que parolos...quantas vezes não ficámos horas a fingir que as víamos...
Ainda vinhas a tempo de fazermos amor...de percorreres o meu corpo com esses lábios carnudos e arrepiantes, de me fazeres só tua e de me consumares sem pecado algum se não o de duas almas apaixonadas. 
Baixei todas as molduras que tinha com fotografias nossas, a nossa casa não merece as nossas recordações, não merece o amor que já não volta, não merece os risos que ainda ecoam...
Eu merecia que estivesses aqui, do meu lado, a segurar este ramo de flores e a colocar noutra campa qualquer sem ser na tua... 
Dói sabes...falar contigo todos os dias sem ter uma resposta...
De te abraçar sem te tocar 
De te sentir em mim 
De ouvir a tua voz sem saber de onde 
Só queria saber se me perdoas por tudo aquilo que te disse naquele dia...
No dia em que te levaram de mim...
Caí devastada quando soube...
Partiste sem saberes que te amava tanto, que te admirava tanto, que te estava tão grata por tudo o que me fizeste tornar.
Hoje sou só mais uma alma no meio de tantas outras que habitam neste deserto de morte, de tristeza e solidão...
Já não tenho forças sem ti...
Hoje ainda vinhas a tempo de voltar para casa...para mim...para nós...
Ainda vinhas a tempo...
Mas o tempo é que te levou de mim...